Conhecida pela produção e exportação de rosas em grande escala, pela feira livre que comercializa confecções e acessórios a preços acessíveis e pelo tradicional Carnaval, a cidade de São Benedito apresenta hoje um cenário vergonhoso de degradação social em consequência do crescimento do número de usuários de drogas, especialmente o crack.
A Praça São Francisco, patrimônio público localizado ao lado do maior cartão de visitas de São Benedito, a Praça dos Índios, se transformou numa verdadeira Cracolândia, um dos points de encontro dos viciados.
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O crack foi difundido na década de 70, quando usuários passaram a misturar cocaína com outros produtos como bicarbonato de sódio e água. O nome faz referência ao inglês ‘to crack’, que significa ‘quebrar’ (devido ao barulho que a pedra faz quando está queimando). O crack é a viagem mais certa com destino à morte. O cérebro de um viciado recebe o efeito da droga depois de 10 segundos da inalação da fumaça. A sensação de euforia dura alguns minutos e em seguida vem uma profunda depressão. Na maioria dos casos, o crack provocou a dependência imediata dos usuários que provaram a droga pela primeira vez.
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O baixo custo facilita o acesso ao crack, mas esse barato sai muito, muito caro. Como o efeito da pedra dura poucos minutos, o usuário busca compulsivamente várias pedras por dia. Afora o valor em dinheiro, preço muito mais alto é pago com a própria saúde, com a destruição da paz familiar e o temor da sociedade, pois o viciado em crack é capaz de roubar objetos da própria casa, assaltar moradores e transeuntes, vender o próprio corpo ou até mesmo matar para conseguir mais pedras. São como vampiros sedentos em busca de sangue.
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Alguns casos narrados por moradores do município de São Benedito chamam a atenção e servem de alerta para as autoridades tomarem uma providência a respeito:
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Uma moça de apenas 16 anos foi encontrada morta no dia 15 de janeiro, próximo à Rodoviária, no centro da cidade, em meio a garrafas de loló, uma substância alucinónega. O corpo estendido no asfalto em plena manhã de sábado lembrava a música ‘pais e filhos’, do Legião Urbana, que diz: “Ela se jogou da janela do quinto andar, nada é fácil de entender… Dorme agora, é só o vento lá fora…”. A jovem era dependente de crack, mas foi morta por um outro tipo de pedra que atingiu sua cabeça em um golpe fatal. Suspeita-se de vingança, pois segundo relatos dos moradores ela já teria atirado na barriga de um colega em consequência de uma discussão. Os dois homicidas que a mataram barbaramente a pedradas foram presos.I
Fevereiro de 2010. Aconteceu no lugar chamado ‘Feira do Peixe’: um grupo de amigos, usuários de droga, estavam ‘brincando’ de roleta russa. A brincadeira consiste em colocar uma bala na arma de fogo, girar e atirar. Quem sobreviver, ganha. Assim, da maneira mais idiota e indigna possível de um ser humano morrer, São Benedito registrou mais um óbito.
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Novembro de 2010. A.O.O.J, estudante do Projovem Urbano, teve a casa invadida por um grupo de adolescentes na madrugada do dia 15. Ele foi amarrado e espancado violentamente e ficou preso até o dia amanhecer. Os ladrões, usuários de crack, levaram dinheiro e objetos pessoais, incluindo livros de uma coleção com um valor sentimental inestimável. O jovem precisou de cuidados médicos para se recuperar do acontecido. Vale tudo por uma pedra. A vida não tem a menor importância. Meses antes do episódio, o mesmo estudante teve o celular roubado quando fotografava um memorial da cidade, em plena luz do dia.
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Em dezembro do ano passado diversos assaltos foram registrados na feira livre, centro da cidade. Uma feirante entrou em desespero porque os ladrões levaram a quantia de 12 mil reais, todo o dinheiro que ela tinha.
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O tráfico de drogas no interior está crescendo a passos largos. Em Ubajara foi registrado o caso de um usuário de crack que trocou a própria moto, nova, sem placa, por duas pedras. O crack é sobretudo a perda da razão, a degradação total do ser humano. É urgente a necessidade de um plano estratégico de políticas públicas. O que fazer com a epidemia do crack que se alastra contaminando a sociedade? Para onde levar os dependentes? Que tipo de tratamento é mais eficaz? Além disso, é preciso é muito, mas muito trabalho de prevenção, para evitar que outros jovens caiam na mesma armadilha.
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